Em uma descoberta revolucionária no campo das neurociências, pesquisadores da Universidade de Ghent, sob a liderança do Dr. Arnout Bruggeman, neurocientista e membro da Society for Neuroscience, revelaram dados preliminares sugerindo que a transferência de microbiota fecal (FMT) de doadores saudáveis para pacientes com a doença de Parkinson (DP) pode induzir melhorias substanciais nos sintomas motores da patologia. Este estudo, parte de uma colaboração transdisciplinar com a biotecnologista Roosmarijn Vandenbroucke, do Centro de Pesquisa em Inflamação VIB-UGent, destaca a correlação intrínseca entre o microbioma intestinal e a neurodegeneração.
Durante um ensaio clínico meticulosamente controlado, 46 pacientes com diagnóstico de DP em estágio inicial foram aleatoriamente distribuídos em dois grupos: um grupo de intervenção, recebendo FMT de doadores saudáveis, e um grupo controle, submetido a um procedimento placebo. Após um período de acompanhamento de 12 meses, observou-se que os indivíduos do grupo de intervenção exibiram uma melhoria estatisticamente significativa na escala UPDRS (Unified Parkinson’s Disease Rating Scale), enfatizando uma redução nos tremores e na instabilidade postural.
O Dr. Fabiano de Abreu Agrela, pós-doutor em neurociências e membro da Society for Neuroscience, elucida que esta abordagem terapêutica pode ter implicações não somente nos sintomas motores mas também na progressão global da doença. A administração do FMT, embora realizada através de uma via intranasal não convencional para atingir o intestino delgado, pode representar um avanço significativo no manejo terapêutico da DP.
Além dos efeitos motores, foi observado que os pacientes submetidos ao FMT tiveram uma desaceleração no desenvolvimento de constipação, um sintoma comumente associado à progressão da DP. A bioquímica Debby Laukens salienta a necessidade de uma análise mais aprofundada para identificar os microrganismos específicos que exercem influência positiva, visando o desenvolvimento de terapias direcionadas que poderiam eventualmente substituir o FMT.
Embora as bases etiológicas da DP ainda sejam parcialmente desconhecidas, estudos anteriores indicam uma conexão entre a doença e alterações na microbiota intestinal. Hipóteses sugerem que agregados proteicos formados no trato gastrointestinal possam ascender pelo nervo vago, potencializando o risco de neurodegeneração. Assim, a modulação do microbioma intestinal pode emergir como um vetor crítico na mitigação da severidade dos danos neuronais.
Este estudo pioneiro abre caminho para novas investigações sobre a relação simbiótica entre o microbioma intestinal e as doenças neurodegenerativas. A pesquisa em andamento na Universidade de Ghent procura expandir o entendimento sobre a influência específica das várias estirpes bacterianas presentes no trato gastrointestinal na patogênese da DP, com o objetivo de desenvolver abordagens terapêuticas mais precisas e eficazes.