O ingresso de novos países deve ser a principal pauta a ser discutida na XV Cúpula dos Brics, marcada para acontecer entre os dias 22 e 24 de agosto na maior cidade sul-africana, Joanesburgo. O grupo de economias emergentes é formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Segundo o embaixador sul-africano no bloco, Anil Sooklal, mais de 40 nações manifestaram interesse em fazer parte do Brics. No início do mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu o ingresso de novos participantes no bloco. O mandatário brasileiro afirmou que a entrada da Argentina, Emirados Árabes e Arábia Saudita é “extremamente importante”.
Entretanto, os membros divergem sobre os critérios a serem seguidos para a admissão de outras nações. A China é a principal interessada na expansão do Brics para ampliar seu campo de influência em meio ao aumento das tensões com o seu principal adversário econômico, os Estados Unidos. Os dois maiores parceiros comerciais do Brasil, travam uma guerra comercial há anos. Americanos e chineses disputam o primeiro lugar no ranking de maiores economias globais, hoje liderado pelos EUA.
De acordo com Reuters, a Rússia também deseja a expansão do bloco. A agência de notícias britânica afirma que a ampliação do Brics é uma ideia que agrada Moscou, já que o país comandado por Vladimir Putin precisa adotar estratégias para superar o isolamento e driblar as sanções impostas pelo Ocidente devido à guerra na Ucrânia. O ex-secretário de Comércio Exterior e presidente do Instituto Brasileiro de Comércio Internacional e Investimentos, Welber Barral, explica que o Brasil defende uma ampliação mais lenta.
“No caso da expansão dos BRICS ainda há um debate em vigor. Vários países manifestaram interesse em ingressar nos BRICS e o Brasil tem defendido uma expansão lenta, iniciando com talvez Argentina, Arábia Saudita e Emirados Árabes, que são países com os quais o Brasil tem excelente relação e poderia apoiar alguns dos problemas indicados pelo Brasil no âmbito do BRICS. Evidentemente, a China e outros querem uma expansão mais rápida até para incluir países que estão sob sua área de influência”, afirma.
BRICS
Segundo o Ministério das Relações Exteriores (MRE), a coordenação entre Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC) iniciou–se informalmente em 2006, com reuniões entre os chanceleres em paralelo à Assembleia Geral das Nações Unidas. O bloco passou a ser um mecanismo de cooperação em áreas que tenham o potencial de gerar resultados concretos aos brasileiros e às populações dos demais países membros. Em 2009, na Rússia, foi realizada a primeira Cúpula entre os chefes de Estado e de Governo dos quatro países.
Somente em 2011 a África do Sul passou a fazer parte do grupo, quando foi acrescentado o “S” — South Africa — ao acrônimo. Já em 2013 o mais novo membro sediou a V Cúpula, em Durban. Dez anos depois, o país volta a receber os líderes do Brics, com exceção do presidente russo, Vladimir Putin, que deve enviar um representante devido a um mandado de prisão por supostos crimes de guerra emitido pelo Tribunal Penal Internacional.
Também em 2013, na Cúpula de Durban, foi criado o Conselho Empresarial do BRICS (CEBRICS), com o objetivo de assegurar que as principais prioridades do setor privado sejam efetivamente comunicadas aos líderes do Governo no BRICS durante a Cúpula, como explica Welber Barral.
“O conselho empresarial dos BRICS é composto por vários empresários relevantes que têm negócios em mais de um dos países dos BRICS, então, é um mecanismo de diálogo entre líderes empresariais e os líderes políticos dos países componentes dos BRICS. Os conselhos empresariais são relevantes como forma de propor soluções operacionais para facilitar os negócios. Essas propostas vão desde acordos na área de investimentos, por exemplo, até facilitação de vistos para negócios”, pontua.
Segundo o governo federal, o grupo representa mais de 3 bilhões de habitantes e US$ 25 trilhões em PIB, ou 40% da população mundial e cerca de um quarto do PIB global. Para o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília Thiago Gehre, a participação do Brasil no Brics é muito importante para ampliar o volume de comércio brasileiro e diversificar a fonte de recursos externos para o país.
“O Brasil esteve, durante muito tempo, preso basicamente à influência do capital ou da Europa ou dos Estados Unidos. E o advento do Brics dá ao Brasil essa chance de recursos provenientes desses países também possam, de alguma forma, serem aproveitados para a construção da economia brasileira”, afirma Thiago Gehre.
O senador Irajá (PSD-TO) é presidente da Frente Parlamentar de Relacionamento com o Brics. Ele defende ampliar as relações entre os membros do bloco e acredita que a proximidade do Brasil com Rússia e China via Brics não prejudica o relacionamento com EUA e União Europeia, mesmo com as crescentes tensões entre as potências. O parlamentar destaca os ganhos que o país pode ter na agenda ambiental, por exemplo.
“São ações complementares e convergentes. O fato de você participar de um bloco como o BRICS, de fortalecimento dessas nações, que já são nações amigas, que têm relações comerciais intensas. Isso não é excludente de poder aproximar o Brasil de outros blocos. Eu acho que nós podemos ter ganhos em várias áreas. E nós podemos ampliar isso, na medida em que tivermos mais projetos de investimentos de grupos desses países, essa posição do Brasil vai ampliar”, afirma o senador.