Ao analisar o já “distante” ano de 2022, vemos que ele foi sinônimo de desafio para o universo das startups, devido à forte retração nos investimentos de risco. O cenário global de instabilidade política e econômica deflagrado dramaticamente pela Guerra da Ucrânia prosseguiu ao longo de 2023 e foi acrescido da maior quebra de um banco desde a crise de 2008. O Silicon Valley Bank (SVB) era a 16ª maior instituição financeira dos Estados Unidos e um importante financiador de startups pelo mundo. Sua situação delicada e rápida falência em março provocou impactos globais, afetando desde um desenvolvedor de games na Índia a farmacêuticas da Europa.
Focado em atender a negócios da área de tecnologia, o SVB também tinha startups brasileiras na cartela que recebiam os investimentos de fundos de venture capital por meio das suas contas no banco. O impacto acabou não sendo devastador para o ecossistema nacional de start-ups, mas reforçou o clamor por maior racionalidade e arrastou empresas dependentes do dinheiro farto e disponível para o ocaso, cortes e dificuldades de sobrevivência.
O relatório The Future of Big Tech, feito pelo grupo JP Morgan, aponta que as pressões da macroeconomia, aumento da concorrência, dificuldades na cadeia de suprimentos e estruturas de custos inchadas continuarão sendo os maiores problemas desses negócios ao longo dos próximos meses.
Por outro lado, o estudo mostra alguns movimentos interessantes das big techs. A Amazon deve aumentar sua oferta de serviços, a Alphabet, dona do Google, deve diversificar seus fluxos de receita com negócios não publicitários e o advento do Bard e soluções baseadas em inteligência artificial, enquanto a Meta deve continuar focada também na inteligência artificial, em ferramentas de anúncios e no metaverso.
A boa notícia é que esse contexto pode transformar dificuldades em oportunidades. Após presenciarmos um boom de investimentos nas startups nacionais há alguns anos, esse mercado entra em ritmo de amadurecimento. É o momento dos empreendedores sólidos e do ecossistema de startups estruturadas.
Os investidores estão mais cautelosos e a desaceleração dos aportes é um fato. Porém, para os próximos ciclos, as empresas que focarem em projetos consistentes, com a missão de buscarem resultados concretos em prazos curtos tendem a atrair o olhar dos investidores, já que a busca será por negócios que gerem caixa de forma mais rápida e segura, confirmando a aversão atual aos riscos.
Outra dica é evitar rodadas de captação que exponham muito patrimônio da organização, pois apesar do momento evidenciar oportunidades sólidas, também estamos em fase de baixo valuation no mercado.
Adicionalmente, vejo o momento mais favorável para start-ups com teses de investimento voltadas para mercados B2B (entre empresas), do que para mercados B2C (consumidores finais). Operações B2C demandam muito caixa para escalar rapidamente.
Ainda há muito dinheiro disponível nos fundos de investimento. Apenas se aumentou bastante a régua de critérios para as tomadas de decisão. Portanto, se há recursos, há sempre novas chances de escalabilidade e sucesso. Nesse sentido, é fundamental se atentar ainda mais ao movimento do ecossistema, oferecer soluções às dores reais do mercado e ter um ótimo plano de negócios, bastante concreto.
Para os próximos anos, a expectativa é que o ecossistema de startups – mesmo em early stages – conquiste ainda maior profissionalização. Para isso, as companhias deverão estar muito preparadas para apresentar seus projetos aos cada vez mais exigentes investidores.
Em todas as dimensões, pessoas, empresas e países estão repensando suas estratégias de gestão, o que pode abrir caminho para uma era mais sustentável financeiramente no futuro próximo. Os empreendedores do ecossistema de inovação aberta, muitas vezes as personalidades mais arrojadas por trás de toda essa transformação social, também precisar seguir aproveitando esse momento para sereinventar e preparar suas start-ups para um cenário mais competitivo, resiliente, cauteloso com gestão de riscos e financeiramente consciente.
*Fernando Moulin é partner da Sponsorb, empresa boutique de business performance, professor e especialista em negócios, transformação digital e experiência do cliente.
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